Claudio Ernani Ebert
“Naquele momento, o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo” (Mateus 27.51a).
Esse foi o momento exato em que Jesus Cristo, o Filho de Deus, após ter bradado em alta voz, entregou o seu espírito naquela rude cruz.
Se dimensionarmos adequadamente o acontecimento, concluiremos que esse foi o momento em que Jesus Cristo conquistou para todos nós o direito de entramos diretamente na presença de Deus, sem a intermediação de sacerdotes ou de líderes religiosos. Instituiu-se, pela graça infinita de Deus, o sacerdócio universal dos santos (1 Pedro 2.9), que permite a cada filho de Deus a livre administração da comunhão pessoal com o Pai.
Foi por esta verdade que muitos perderam suas vidas nas fogueiras da inquisição e foi esta a grande base da Reforma e da Pré Reforma Protestante pelas quais outros tantos deram seu sangue, quando menos, perderam todos os seus privilégios.
Cada cristão, individualmente e coletivamente, pode entrar na presença de Deus e gozar do privilégio de total intimidade na comunhão pessoal. O véu foi rasgado! Cada cristão tem a unção (Espírito Santo) permanente sobre sua vida e não tem necessidade que alguém fique intermediando sua relação de vida e direção espiritual de Deus (1 João 2.20, 27). O véu já foi rasgado!
Jesus ensinou a dinâmica maravilhosa da comunhão pessoal com Deus quando disse: “Mas quando você orar vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará” (Mateus 6.6). O véu foi rasgado! Cristo nos fala do grande presente, do imenso privilégio que cada um tem de buscar vida e direção particular diretamente da relação pessoal com o Pai celestial. O véu foi rasgado!
No entanto, o que observamos hoje? Empresários cristãos travestidos de líderes espirituais à frente de igrejas, conduzindo as vidas de pessoas que só sabem se relacionar com Deus pela intermediação de terceiros ou através de programas especialmente preparados para isto. Quanto mais a igreja cresce no mundo, mais cresce o número de pessoas que se assenhoreiam de pessoas, como se fossem os donos das vidas de terceiros. Alguns líderes têm prazer e até o desejo mórbido de ser consultados por tudo e a respeito de todos os detalhes nas vidas de seus liderados.
Cristo rompeu o véu do santuário de alto a baixo. O véu foi rasgado! Porém, algumas pessoas estão se dando ao trabalho de costurar o véu outra vez. Não é permitido, na visão delas, que alguém se aproxime de Deus e peça sua direção pessoal sem antes passar pela instância do poder imediato do líder de célula, do líder de núcleo ou do líder pastoral. O sacerdotalismo evangélico contemporâneo é muito mais inibidor e agressivo do que o sacerdotalismo judaico, pois este, em seus tempos áureos, era exercido por pessoas escolhidas por Deus para ministrarem no templo e pouco influíam na vida pessoal do leigo, a não ser nas cerimônias de convocação coletiva.
Estão costurando o véu outra vez! Em busca de proveito próprio, de posição, de primazia, de lucro pessoal, de amor pelo poder e de controle administrativo-espiritual estão impedindo que o povo de Deus viva o que foi conquistado na cruz e na ressurreição de Cristo.
Na televisão, um proeminente líder espiritual de um dos movimentos que mais cresce no Brasil, disse e repete com todas as letras, sem constrangimento e sem enrubrecer: “Você não tem fé? Não tem problema! Eu tenho fé. Você não precisa de fé. A minha fé basta. Deus vai operar por meio de minha fé, sem que você precise crer”. Em outras palavras, ele está dizendo que a relação pessoal com Deus não é necessária. Ele se diz o intermediário confiável, o sacerdote intercessor que fará toda a mediação sem necessidade de participação do interessado. O véu só foi rasgado para o intercessor poderoso, para o sumo sacerdote da nova ordem espiritual da teologia do centralismo de uma liderança cativante, porém dominadora.
Outro exemplo clássico desse fenômeno dos “Costureiros do Véu” se percebe em expressões do tipo: “Tudo que sai da boca de Deus é um decreto, pois emitido por uma autoridade, cuja palavra tem força de lei, seus decretos são acompanhados de seu cumpra-se”. Ou seja, se uma autoridade espiritual proferir alguma coisa que ela diz ser de Deus, é um decreto que tem força de lei e que se cumprirá.
São comuns frases do tipo: “A obediência aos Pastores é a nossa legalidade contra Satanás”. “Pastores”, escrito com inicial maiúscula mesmo. Meu Deus, o que é isso? Nossa legalidade contra Satanás foi conquistada por Jesus Cristo quando pisou na cabeça da antiga serpente morrendo na cruz e ressuscitando dos mortos ao terceiro dia.
Esse movimento dos “Costureiros do Véu” não é novo, talvez seja tão antigo quanto a própria Igreja. Ele já foi identificado por Jesus Cristo na Igreja de Éfeso e revelado na carta que o Senhor escreveu ao anjo daquela comunidade de cristãos. Lá, os “Costureiros do Véu” receberam o nome de nicolaítas. O texto diz: “Mas há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas dos nicolaítas, como eu também as odeio” (Apocalipse 2.6). A palavra “nicolaítas”, numa das possíveis interpretações do vocábulo, vem de uma composição grega “nikao” que significa “conquistar, vencer, tirar vantagem dos outros, dominar os afetos de alguém, ser superior aos outros” e “laós”, que significa “povo”. Os nicolaítas seriam, então, líderes dominadores que conquistam pessoas dominando seus afetos, que seduzem por meio de seu carisma com o objetivo de tirar o máximo de vantagem do povo de Deus.
Irmãos preciosos, irmãs amadas, membros da Igreja de Deus, que é a Sua Plenitude (Efésios 1.23), fiquemos alertas contra esse mal travestido de espiritualidade que quer roubar o bem maior já oferecido à humanidade: — a presença viva do Deus vivo na vida diária de cada cristão, sem intermediários. Livre-se de sacerdotes e exerça o seu próprio sacerdócio.
Que Deus nos mantenha com saúde espiritual e emocional/psicológica para que permaneçamos acordados e vigilantes. E, se você está lendo isso agora e se sente temeroso de sair das garras dos Costureiros do Véu, por favor, acorde e sinta-se livre para viver aquilo que Deus conquistou para você na cruz do monte da caveira: comunhão pessoal, direta e profunda, diária, incircunstancial e em todos os lugares com o Deus Vivo e Verdadeiro, seu e meu Pai por meio de Jesus Cristo, Seu Filho, nosso Salvador e Senhor.
Talvez você seja um Costureiro do Véu, que entrou nessa filosofia sem mesmo perceber, aceitando o fluxo natural das coisas, influenciado, quem sabe, por livros de teologia triunfalista, por congressos e encontros com outros proeminentes Costureiros do Véu. Empolgado com as perspectivas do poder, seu coração pode ter-se deixado enganar e você pode ter sido engolfado pelas correntes do desejo de influência, do controle de pessoas e do destaque e proeminência no Reino de Deus. Acorde! Volte! Não é tarde para um genuíno arrependimento e quebrantamento. Lembre-se de como era bom e romântico o tempo em que você servia a Jesus apaixonadamente com base no primeiro amor. Siga o conselho do amado Senhor Jesus: “Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do lugar dele” (Apocalipse 2.5).
É tempo de lembrar o que levou você a desviar-se do primeiro amor, qual foi o gatilho que o levou a deixar, talvez lentamente, mas gradativamente e voltar à prática das primeiras obras, da primeira teologia, da teologia do Cristocentrismo e do primeiro amor apaixonado por Jesus.
Que Deus nos ajude. Soli Deo Gloria.
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